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Quando os deuses nos abandonam

09/09/2009

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Semana passada, dois acontecimentos me puseram para refletir. Primeiro, a queda do GMail, que ficou fora do ar por cerca de duas horas no dia 1º de setembro. Foi o bastante para deixar agoniados seus milhões de usuários mundo afora. Em poucos minutos, #gmail era o assunto mais falado no Twitter e um dos mais procurados no próprio Google.

Marcelo Sarsur, na melhor definição do desespero coletivo, perguntou: “Será que era assim que os antigos se sentiam em dia de eclipse do sol?”

Isso me fez pensar na fé cega que temos em certas instituições, como o Google, ou o sistema bancário. Menciono o segundo justamente por conta do segundo fato que me chamou a atenção semana passada: clonaram o meu cartão — me mostrando a fragilidade daquilo que tomamos como certo. Mas, se nos bancos depositamos nosso dinheiro, no Google depositamos nossas próprias vidas: nossos compromissos, nossos documentos, nosso trabalho, nossos amores, nossa biografia. E bastam duas horas sem acesso para que percamos a razão.

Nessas duas horas sem Gmail, além da irritação pelo que estava lá dentro e não pudemos acessar, creio que ainda maior era a angústia pelo que poderia vir e não recebemos. Somos a geração da informação, e precisamos nos abastecer constantemente de novas e novas notícias — dos amigos, do mundo. Há estudos que mostram a necessidade química que desenvolvemos pelas novidades, que nos faz amar o fluxo contínuo de informação que a Web 2.0 nos proporciona.

Atire a primeira pedra quem nunca apertou F5 freneticamente. Quando a informação vinha em doses pequenas, sabíamos esperar : Mr. Postman, look and see, if there’s a letter in your bag for me… [não podia deixar de homenageá-los no Beatles day] Mas nesses tempos em que o carteiro pode chegar a qualquer segundo, mesmo tarde da noite, não podendo concentrar nossa ansiedade, vivemos em constante agitação — quando não somos mesmo paralisados pela espera.

Perdoem-me se generalizo minhas impressões e meus sentimentos para toda minha geração. Mas, como certa vez eu disse ao Dr. Desembargador: “Excelência, eu sou um homem do meu tempo”.